quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

pessoa-obtusa

Mais de dois anos sem postar. Mais do que isso. Quase isso sem escrever. Escrevi algumas vezes solto no tempo. Mas deixei criar mofo e poeira naquela partezinha do cérebro que se usa pra escrever o que se sente.

(...)

Existe um kit-pessoa-gente que traz um walk-talk, um espelho, tijolos, e uma marreta.

E existe um kit-pessoa-obtusa que traz uma caixa, e a pessoa vive lá.

As pessoas nascem com um dos kits ou adquirem ao longo da vida. É possível adquirir o kit-pessoa-gente durante a vida. Basta querer. Basta ver. Mas tem gente que usa com muito afinco seu kit-pessoa-obtusa. E não enxerga que o mundo a sua volta respira além de si. Não enxerga a si próprio, não troca, não constrói a vida, não cresce. Permanece a vida tateando os limites de sua existência.

Mas essas pessoas não vivem sós. (MESMO VIVENDO DENTRO DE CAIXAS!!!!). Elas interagem. Elas criam família. Elas até têm família... Às vezes até amigos. Ou pessoas que tem pena a sua volta. Esqueci de dizer. Vem navalhas dentro da caixa. Pras pessoas obtusas se defenderem de si mesmos.

Como não há olhos que enxergam, não veem os estragos provocados. Como não se tem espelho, não refletem si próprios. Como não se tem walk-talks, não falam, não tem um câmbio-SOS-socorro-amigo do peito (pessoa-gente!). Não crescem. Se tolhem deformados dentro da caixa.

(...)

Dizem que não enxergamos o que não conhecemos. Uma coisa metafísica, não sei dizer.

O que aconteceria se, contra a vontade, mostrássemos o espelho às pessoas-obtusas?




Talvez se esvanecessem como vampiros à luz do dia...